Utopia ou realismo?

Utopia ou realismo?


Hoje em dia, a maioria das pessoas sabe que o modelo socialista é fadado ao fracasso, tendo em vista as inúmeras experiências malsucedidas que ocorreram pelo mundo e a falta de consistência lógica das ideias desse sistema socioeconômico, que prega a centralização plena do planejamento da economia e a total supressão das liberdades individuais. O resultado dessa concepção foi o afloramento intenso da miséria e cerca de 100 milhões de pessoas mortas.

Mas, apesar das incontestáveis evidências de que a fundamentação na qual se baseia o socialismo é insustentável, acabaram prevalecendo no ideário popular, implicitamente ou não, linhas de pensamento derivadas do totalitarismo esquerdista, tais como a social-democracia, o Estruturalismo e a "democracia popular". Tem-se em mente que o Estado deve exercer de alguma maneira o papel de "pai do povo", seja por meio de programas assistencialistas, fomento de setores industriais, ou até mesmo controle de preços e salários. Juntamente com essa mentalidade, há uma repulsa quase intransigente à ideia de livre mercado e Estado mínimo, pois o ranço marxista deixou muitos resquícios após ter fracassado na tentativa de ser cumprido integralmente, retratando o setor privado como sendo nocivo aos cidadãos mais pobres, bem como passando a ideia absurda de que para alguém enriquecer é preciso que outra pessoa empobreça e que patrões exploram seus trabalhadores simplesmente em virtude do fato de obterem lucros. Todos esses tópicos nada mais são além de meros embustes que não resistem sequer a uma análise um pouco mais detalhada.

O mercado é um processo no qual um conjunto de empreendimentos se empenha continuamente em atender as demandas dos consumidores para que possa realizar trocas de mútuo benefício com estes últimos e, com isso, poder aumentar sua capacidade produtiva e progredir financeiramente. Ao fazer isso, as empresas contratam mais pessoas e geram renda, o que aumenta a qualidade de vida da população. É preciso ter consciência de que há uma clara relação de interdependência entre empresários e empregados. 

Quando o governo decide intervir erradamente nesse processo, ele causa sérios danos aos cidadãos, que na maioria das vezes só são sentidos no longo prazo, pois os governantes tendem a iludir a população a curto prazo para que possam ganhar eleições relativamente iminentes. Alguns dos meios mais usados para esse fim são a emissão de moeda (imposto inflacionário) e a venda de títulos públicos, que causam efeitos devastadores na economia após certo período, acarretando em aumento de preços, demissões sucessivas e redução da demanda efetiva, pois quando se proporciona poder de compra de forma arbitrária e descabida, os produtos ofertados no mercado escasseiam em ritmo acelerado e, com isso, aumentam de preço, tornando cada vez mais inviável o consumo e a continuidade da produção nas empresas. De forma similar ocorre quando a dívida pública aumenta irresponsavelmente, pois em algum momento ela terá de ser paga, e quem arcará com esse ônus serão os consumidores, que mais uma vez terão sua demanda efetiva diminuída, em prol do pagamento de impostos, gerando quedas nas expectativas dos investidores e produtores, que terão de reduzir sua produção e demitir trabalhadores. 

Quase sempre são usadas justificativas infundadas e enganosas para a realização de tais atos inconsequentes. Entre as mais usadas está a "distribuição de renda", que, na maioria das vezes, consiste em o Estado sustentar por tempo indeterminado pessoas desempregadas e de baixa renda com dinheiro público. Essa prática acaba constituindo um mecanismo de incentivo que compele um número cada vez maior de pessoas a serem usuárias desse programa governamental, gerando escassez de mão de obra, aprisionando as pessoas mais pobres ao status quo governista e coibindo a entrada de investimentos no país. O Estado, ao invés de priorizar o uso de política assistencialista, deveria gerar condições para que a livre iniciativa fosse mais presente, o que aumentaria a demanda por mão de obra, valorizaria os salários e causaria uma melhora sistemática na qualidade dos bens e serviços ofertados no mercado, devido ao acirramento da disputa empresarial proveniente da livre concorrência. Nesse cenário, políticas governamentais de auxílio direto aos mais pobres poderiam ocorrer, mas tendo caráter provisório, dando um certo limite de tempo para que os usuários fossem empregados. Outra prática intervencionista prejudicial à economia e à sociedade é a fixação de um salário mínimo, pois isso impede que mais pessoas sejam contratadas, tendo em vista que indivíduos que aceitariam trabalhar por um valor inferior ao instituído pelo governo são excluídos do mercado de trabalho. O certo seria permitir que empregados e empregadores chegassem a consensos a respeito das remunerações e regras trabalhistas. Isso não geraria uma opressão dos empresários sobre os trabalhadores, pois se os primeiros de fato intentassem pagar valores irrisórios aos segundos, já o estariam fazendo nas condições atuais, tendo em vista que, teoricamente, nada os impede de pagar apenas um salário mínimo para todos os seus empregados. Mutatis mutandis, o controle arbitrário sobre os preços das mercadorias gera malefícios similares, pois ao fixar preços máximos, o governo torna inviável que as empresas arquem com os custos de produção de seus produtos ou torna pouco atraente investir nos setores controlados, já que os lucros serão menos satisfatórios comparados aos de outros ramos. Isso acaba fazendo com que mercadorias saiam de circulação no mercado legalizado.

Quanto mais o Estado pratica tais tipos de política intervencionista, mais a nação adentra num ciclo vicioso no qual, a cada fracasso deflagrado, mais se usa, na tentativa de suprimi-lo, das mesmas práticas que o causaram, aflorando gradualmente o despotismo e a corrupção, oriundos do inchaço da máquina pública.

Mas, alguém pode pensar: "o socialismo é fracasso certo e o intervencionismo tem defeitos, mas o liberalismo é utópico." Ora, o liberalismo econômico leva em conta justamente o fato de que os seres humanos possuem natureza depravada e são voltados para si mesmos, administrando de forma muito melhor o que de fato é seu e agindo de forma racional e eficiente, cometendo apenas erros isolados e de pequenas proporções, na ausência de fatores exógenos negativos, como a interferência estatal inadequada. Em nenhum momento se propõe utopia ou panaceia ao se colocar o liberalismo como sendo o melhor modelo econômico, muito pelo contrário, é fornecida uma alternativa realista que gera progresso; transparência; qualidade de vida para a população; possibilita, com o aumento da renda per capita, que os indivíduos realizem mais atos de caridade (entre meados do século XIX e início do século XX, auge do liberalismo econômico no mundo, foi o período em que houve a maior proliferação de organizações caridosas da história); e tem pleno respaldo estatístico: das 30 nações com melhor IDH do mundo (ONU), 21 estão entre as 30 mais liberais do mundo (Heritage Foundation) (inclusive as 10 primeiras); e das 30 nações menos corruptas do mundo (Transparency Organization), 22 estão entre as 30 mais liberais do mundo (inclusive as 10 primeiras).


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6 Comentários

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  1. As ações assistencialistas seriam válidas enquanto estivéssemos em uma transição para uma economia liberal? Ou é pa deixar o povo cum fome mesmo?

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  2. O Estado forneceria uma ajuda provisória para que a população pudesse ter um suporte enquanto as oportunidades de emprego surgem gradualmente.

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