No Brasil foi adotado o regime de
metas cambiais, de 1994 à crise cambial de 1999. Esse regime obteve êxito nos
quase cinco anos em que vigorou, porém teve seu lado negativo, pois deveria ser
utilizado apenas para a estabilidade de preços, mas, diferente disso, foi estendido por mais
tempo. A fragilidade aconteceu porque, ao atingir a estabilidade de preços,
continuaram utilizando esse regime, que deveria ter sido substituído de forma
planejada, e não de forma traumática, como foi em 1999.
Os pensadores a favor do abandono
da âncora cambial (controle artificial da taxa de câmbio) após a estabilização defendiam que uma desvalorização cambial
não seria capaz de ocasionar um repique da inflação, pois a economia
encontrava-se desaquecida, com os componentes da demanda agregada todos reprimidos,
portanto, o impacto da desvalorização cambial sobre os custos não seria
repassado para os preços.
Em contrapartida, o Banco Central
do Brasil (BCB) referendado por muitos analistas, temia um repique
inflacionário causado pelo abandono do regime monetário de metas cambiais.
Portanto, existia um excesso de cautela quanto a essa decisão, apesar de o sistema
cambial já vir sendo flexibilizado gradualmente. O país caminhava para um
sistema de maior flutuação, porém o problema estava na velocidade com que isso
era feito.
Já existiam indicadores (que não
foram levados em consideração) de que o ritmo estava mais lento do que deveria.
O déficit no Balanço de Pagamentos (BP) era um deles, onde o BCB tinha que
aumentar as taxas de juros para atrair capital externo, para, assim, garantir o
financiamento do BP e a manutenção das reservas internacionais. Porém, a política
de juros altos carregava um alto preço, pois aumentava a dívida líquida do
setor público em relação ao PIB, já que parcela significativa dessa dívida estava
atrelada à SELIC. A dívida pública alta era outro indicador de ameaça à
manutenção do regime monetário de metas cambiais, pois um dos requisitos para
esse regime era que o país tivesse austeridade fiscal.
A moeda brasileira tornava-se
mais vulnerável a ataques especulativos, devido aos desequilíbrios
macroeconômicos internos e externos, o que dava mais um indicativo de que o
regime monetário de metas cambiais deveria ser abandonado, porém as autoridades
monetárias pareciam ignorar esses fatos de necessidade de mudança. Enquanto a
mudança não acontecia, o real continuava sobrevalorizado, o Brasil acumulava
déficits no BP em conta corrente, financiados pela entrada de capital
estrangeiro na forma de empréstimos, financiamentos e investimentos.
A capacidade do BCB em sustentar
por tanto tempo o regime monetário de metas cambiais foi o elevado grau de
reservas internacionais, que era mantido graças às condições de liquidez
internacional aliadas à restrição monetária interna.
As dificuldades do país
aumentaram quando a taxa de risco soberano elevou-se bruscamente, refletindo a
desconfiança do mercado financeiro quanto à viabilidade da manutenção do regime
monetário de metas cambiais. Na expectativa crescente de desvalorização
cambial, a demanda por moeda estrangeira se elevou consideravelmente, forçando
o BCB a vender volumes cada vez maiores de reservas internacionais para
assegurar a taxa de câmbio. Isso reduziu a capacidade de intervenção no mercado
cambial, reduzindo as reservas do país.
Nesse momento houve a
substituição do Presidente do BCB, passando de Gustavo Franco para Francisco
Lopes, que adotou a chamada banda diagonal endógena, mas que logo se tornou
insustentável, pois, se fosse mantida, acabaria com as reservas internacionais
em poucos dias.
Com o objetivo de preservar as
poucas reservas internacionais que ainda sobraram, o BCB foi obrigado a alterar
o regime monetário, deixando que a taxa de câmbio fosse determinada livremente.
Não existia outra opção para o BCB a não ser adotar essa medida, pois, caso
fosse mantido o regime antigo, as reservas internacionais se esgotariam.
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