"Vendo, não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem"

"Vendo, não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem"


A cultura ocidental tem, lastimavelmente, padecido das mais horrendas mazelas culturais, incutidas de forma abjeta e ardilosa por ideologias perversas em essência, mas que, discreta e enganosamente, se acoplam às esferas e instituições sociais, levando o cidadão médio, sem que este se dê conta, à perdição gradual. Tais correntes malévolas não se restringem a nenhuma esfera e se alastram por todos os âmbitos, até mesmo por entidades que estão na raiz da formação do Ocidente, como a Igreja.

Constatando que sua metodologia de persuasão, focada na celeuma econômica e fazendo uso de premissas logicamente paupérrimas a fim de culminar na luta armada revolucionária, se tornou inócua e obsoleta, a esquerda se reestruturou e alterou sua ênfase. Passou a primar por ocupação de espaços e incrustação da mentalidade socialista de forma sutil e pouco perceptível na mente das pessoas. Universidades, escolas, igrejas, artes, meios de comunicação, entre outras áreas, foram vorazmente invadidas. A conclusão desse processo tornaria desnecessária a luta armada outrora defendida, pois a própria "burguesia" (desde os pequenos até os grandes burgueses), a qual se visaria confrontar fisicamente, em sua maioria esmagadora passaria a ser, ela mesma, adepta da tese que lhe atacara visceralmente.

A espiritualidade, sendo a esfera na qual grande parte dos povos edifica a esperança na felicidade real e eterna, constituiu meta crucial de ocupação para os socialistas. Estes fundaram a Teologia da Libertação, que consiste em transformar o cristianismo numa extensão do marxismo, passando a ideia de que todo o contexto bíblico e apostolar está em função do objetivo socialista. Assim sendo, as premissas do cristianismo, que apontam para um fim transcendental, mediante a justificação pela fé e a disseminação do evangelho da salvação em Cristo, passariam a ser subservientes ao mero propósito da assistência social e da distribuição de riquezas, almejando a supressão das "injustiças sociais" causadas pelas "classes dominantes" ao longo das gerações e sistemas socioeconômicos. Tudo isso em detrimento do cerne real do cristianismo, que é a ascensão espiritual.

Em virtude de a Bíblia não discorrer precisamente sobre questões políticas e econômicas, mas sim dar primazia àquilo que é imaterial e, fundamentada no que postula sobre isso, dar apenas uma base para as referidas searas, muitos cristãos se veem, em meio à entorpecedora despolitização da cultura, desnorteados na tarefa de discernir acerca destas. Esse fato, aliado à aderência, ainda que por vezes inconsciente, dos fiéis à frágil corrente teológica do dispensacionalismo, que prega desprendimento e desprezo ao mundo terreno e material, os leva a caminhos de entendimento tortuosos sobre a realidade social que os cerca.

Como agravante, se soma a tal deplorável cenário o fato de que nem mesmo os pregadores, líderes e formadores de opinião que não tiveram sua forma de pensar profundamente contaminada conseguem ou querem desfazer os males constituídos pela devastadora estratégia de subversão, pois, barrados pelo "politicamente correto", também fruto desta, se encontram acuados e impotentes, sendo induzidos a propagar um simplismo que atenta, por omissão, contra a saúde do senso crítico de seus instruídos. O ato de presumir igualdade entre os espectros políticos, colocando apenas a idolatria a estes como o grande mal a ser repelido, configura danosa insuficiência àqueles aos quais a mensagem é direcionada e um erro crasso. Não há outros movimentos culturais significantes que busquem deturpar religiões, nem tampouco a mais influente delas, de forma a torná-las submissas ao propósito de uma corrente política, mas sim, há, em especial, uma ameaça cabal à integridade destas, cuja razão de sua existência é aniquilá-las: o marxismo.

O "politicamente correto" teve sua origem, enquanto instrumento de um corpo ideológico, nos anos 60, alicerçado pelo "desconstrucionismo", fundado pelo ideólogo marxista Jacques Derrida com o intuito de desconstruir teses, obras e instituições vinculadas à essência cultural do ocidente, dando, deturpadamente, um foco a lutas de classe em cada um de seus alvos para incutir a ideia de que tudo gira em torno disso. A partir de tal base, o politicamente correto se tornou mais sorrateiro e onipresente, passando a problematizar aspectos triviais da vida cotidiana e fazendo as pessoas se culparem por falsos erros, baseados em um moralismo ilusório, a fim de remodelar a cultura em função das diretrizes políticas da esquerda, visando à desestabilização e desunião dos povos para soerguer déspotas amparados na avidez própria do caos. A presença de indivíduos influentes, detentores do dever de se opor às pragas morais, que com naturalidade são complacentes com tão ardilosa tática de subversão, atesta a temerária hegemonia de um grupo ideológico faccioso no seio institucional de uma sociedade que arde no raquitismo moral e se vê aprisionada no obscurantismo da farsa.


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