José Maria Eymael (Democracia Cristã) integra o grupo político que partilha de uma corrente ideológica, denominada democracia cristã, originada após a segunda guerra mundial. Tal visão política consiste, fundamentalmente, na defesa da conservação de valores cristãos associada a princípios liberais e social-democratas, mesclando certo nível de descentralização do poder com medidas de assistencialismo estatal.
Sendo candidato pela quinta vez ao cargo mais importante da República, o presidenciável nunca dispôs de recursos e tempo de exposição midiática suficientes para esclarecer as ideias que têm como principal representante no mundo a chanceler alemã Angela Merkel. Apesar de ter uma base de premissas bastante assemelhada às doutrinas liberal e conservadora, a democracia cristã possui em seu conteúdo algumas contradições práticas e conceituais que dão margem à realização das etapas programáticas de seus maiores adversários políticos. Ao mesmo tempo em que postula em seu programa de governo, sendo coerente com o pensamento democrata cristão, uma maior autonomia jurídica para as unidades federativas e municípios, pilar caro ao liberalismo, Eymael propõe investimento estatal maciço em prol do fomento do desenvolvimento econômico do país, somado a políticas de moradia e provimento de serviços como saúde, ensino e previdência; algo que deriva da mentalidade social-democrata. Essa mistura tende a gerar obstáculos que inviabilizam sua vigência plena, acarretando na prevalência de apenas um dos modelos com o tempo, pois os custos do aparato do intervencionismo estatal em tais áreas abrangentes, cujo retorno à sociedade é obtido majoritariamente no longo prazo, geram incentivos deletérios e contraproducentes, devido ao alto grau de suscetibilidade à captura por interesses populistas de chefes de Estado em gerações futuras, que, visando à priorização de sua permanência no poder, gerem a máquina pública em prol de setores que geram retornos perceptíveis a curto prazo em detrimento de medidas duradouras. Ao ser condescendente com excessivas, embora culturalmente sutis, atribuições ao Estado, incute na cultura nacional, ainda que involuntariamente: uma matriz de incentivos perversa que faz com que os financiadores do governo sejam cada vez mais escassos, seja pelo custo de oportunidade em relação a alocar recursos em países menos tributados, ou pelas dificuldades impostas ao ato de gerar riqueza internamente; entrava o pretendido aumento da autonomia dos estados e municípios, por conta da drenagem de recursos para a esfera federal; e atrai cada vez mais beneficiários para as custosas medidas assistencialistas. Tais consequências constituem cenário propício para crises econômicas e desalento social, que dá vazão a fenômenos políticos de teor despótico, cujo principal efeito é o agigantamento estatal.
O reconhecimento da elevada importância das tradições e valores cristãos, considerando-os fundamentais para a prosperidade das nações, se contrapõe à sua submissão, demonstrada em seu programa de governo, às diretrizes, a respeito do ensino público, das organizações internacionais, que são claramente opositoras ao cultivo do legado judaico-cristão. Denotando postura favorável à adoção centralizadora de um modelo pedagógico voltado à formação afetiva e moral dos indivíduos em sua etapa de vida mais mentalmente vulnerável, atenta contra a exclusividade da família em realizar tal função e constitui uma grave ameaça à liberdade, tendo em vista o avanço do Estado perante um notório bastião dos direitos fundamentais da sociedade.
Embora seja muito pouco estruturada e incorra em numerosas antíteses, a candidatura de Eymael representa uma incipiente ascensão dos ideais conservadores numa nação cujas instituições têm sido, há décadas, locupletadas por um grupo ideológico extremamente organizado e inimigo da liberdade. Portando lampejos de modelos fracassados, a defesa da democracia cristã denota pouco discernimento ideológico, contaminando a virtude das ordenanças cristãs com traços políticos que usurpam as funções individuais por meio do Estado e se sujeitando a entidades internacionais que visam à deterioração das soberanias nacionais. O Estado só poderá "ser servo e deixar de ser senhor" da nação, como incoerentemente apregoado em seu programa, quando os princípios liberais, atrelados à conservação das tradições e instituições que esteiam o arcabouço moral da sociedade, forem adotados sem concessões às nuances de seu oposto.
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