A impactante, apesar de já esperada, demissão do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta teve como uma de suas motivações básicas um princípio elementar presente em todos os empregos, do mais ordinário ao mais importante: cultivar e externar constantemente discordâncias frontais com seu chefe, ligadas diretamente ao seu trabalho, não pode culminar em outro destino que não seja a perda do cargo. Porém, outros fatores de natureza mais complexa também contribuíram para saída do médico, atrelados a uma corrente de pensamento que tem norteado, há várias gerações, políticos em todo o mundo, ainda que estes não estejam conscientes disso: o positivismo. Tal crença cega os gestores públicos, bitolando-os ao suposto prestígio inquestionável de nomenclaturas acadêmicas e fazendo-os menosprezar e subestimar o processo político, o que acarreta em elevada vulnerabilidade perante os inimigos ideológicos, tal como a de alguém que ignora a lei da gravidade frente a um penhasco.
Não obstante o fato de não ser um técnico "puro sangue", tendo exercido notório ofício político como Deputado Federal por 8 anos e sendo especializado em uma área bastante específica da medicina, a ortopedia, possui um histórico relevante na área da saúde, como Secretário Municipal de Saúde, Presidente da Unimed Campo Grande e médico militar. A escolha do Presidente em colocá-lo no Ministério, já ironicamente atrelada a certo nível de influência política de um partido aliado, o DEM, tornou-se um dos ícones das complicações que são geradas ao se negligenciar a necessidade de concordância prévia, por parte de membros da equipe, com os pressupostos teóricos que guiam a plataforma do governo eleito. O mero status acadêmico não pode substituir os critérios básicos da estratégia política, que é o que concede consistência a todo e qualquer governo. Os problemas causados pela cartilha positivista se dão fundamentalmente porque não há unanimidade objetiva e abrangente nas searas da ciência e também em virtude de o mundo real não se resumir, puerilmente, ao empirismo, dada a existência de pressupostos metafísicos, que guiam a consciência e a ideologia humanas, onde tampouco há o menor sinal de consenso. Ademais, a tecnocracia costuma encontrar árduas dificuldades no trato com a articulação política requerida constantemente por cargos ligados a governos, não sendo incomum a queda de tecnocratas de tais funções ainda que dotados de grande prestígio acadêmico.
No dia a dia de suas atividades, o ex-Ministro, em entrevistas e internamente, ostentava discordâncias frequentes com a visão de seu Chefe maior a respeito de uma crise complexa o suficiente para não delegar protagonismo a nenhuma pasta governamental em especial. Sua postura, ao aderir quase que cegamente à corrente sanitária de cunho desproporcional e alarmista, endossada diuturnamente pelas grandes mídias do mundo, à base de reprodução autossustentada de repercussões sensacionalistas, constituiu claro antagonismo justamente a um Chefe de Estado que tem sido, há anos, o maior oposicionista nacional a um abrangente Sistema corrompido, que coordena desde as escolas e universidades públicas até a esmagadora maioria das classes política e jornalística. A defesa de um isolamento generalizado, perante uma enfermidade que acomete fatalmente apenas um restrito grupo de risco e é dotada de potencial de danos diminuto em locais com as características geográficas do Brasil, em detrimento de diversas outras alternativas viáveis e cientificamente válidas, já verificadas em outras nações com sucesso, mais que justifica contínuas contestações ao coordenador da política de saúde. Somado a isso, a relutância em recomendar ou ao menos endossar o uso da Hidroxicloroquina, cujo comprimido custa em torno de um real, em conjunto com a Azitromicina, que têm demonstrado numerosas evidências de sucesso no combate ao Covid-19, inclusive entre os próprios médicos, membros do alto escalão de instituições importantes e em pesquisas da empresa Prevent Senior, para induzir os pacientes a utilizar um remédio cujo preço gira em torno de 230 a 280 reais (Oseltamivir), configura mais um grande acinte ao interesse público.
Os trâmites conflituosos presenciados na gestão Bolsonaro, assim como os ocorridos em qualquer outro governo ainda influenciado por alas positivistas, com seus cargos ministeriais, trazem uma grande lição a todos os agentes políticos. A tecnocracia pretensiosa é incapaz de enxergar os "elefantes na sala", que são as frontais ameaças político-ideológicas, presentes inclusive em supostas receitas infalíveis e universais com a falsa roupagem de hegemonia científica e no avanço da tirania de aspirantes a ditadores, apoiada na mentalidade igualmente megalomaníaca de oligarquias de mercado, como as empresas de telefonia e redes sociais, que fornecem dados sigilosos para governantes criminosos que estão monitorando o povo em seu cotidiano íntimo, ameaçando-os de prisão ao mesmo tempo em que libertam os reais transgressores das leis, sob o mesmo pretexto doentio de libertar a sociedade de uma doença, adoecendo-a muito mais gravemente com a mazela do totalitarismo. Apesar de tudo, a opinião pública politicamente relevante, que é aquela pertencente à grande massa de simples e humildes cidadãos, a maioria expressiva da população, tem demonstrado claros indícios de adesão à tese do Presidente a respeito da crise, a despeito de levantamentos de instituições de baixa credibilidade e de panelaços elitistas. Para os autores destes últimos, a força arrebatadora dos fatos presente no iminente desemprego maciço, oriundo dos decretos proibitivos de prefeitos e governadores, deve, cedo ou tarde, reavivar seu senso de realidade, atirando seus referidos algozes ao ostracismo político.
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