Enquanto escrevo estas linhas a humanidade encontra-se imersa em um experimento social distópico jamais imaginado. No Brasil, por aproximadamente noventa dias, em maior ou menor grau, dezenas de milhões de pessoas perderam seu sustento. Proibidas de sair de casa pelo temor de não contribuírem para a disseminação de uma virose respiratória, quarenta mil famílias foram impedidas de adequadamente se despedir de seus entes queridos que tombaram perante o coronavírus. A nível global, atividades triviais como almoçar em um restaurante, ou assistir uma partida de futebol, tornaram-se memórias. A Organização Mundial da Saúde propagandeara para o mundo dito livre o receituário adotado pelo regime comunista chinês, num período que certamente entrará para a infâmia da história humana neste planeta.
Sob o mantra do “isolamento social” todo pecado passou a ser repentinamente permitido. Detentos foram soltos; trabalhadores, algemados. Frequentar uma praia tornou-se crime; as garantias constitucionais, uma piada. Autoridades com seus gordos rendimentos garantidos fazem as escolhas para aqueles que, literalmente, vendem o almoço para comprar o jantar. Evitar aglomerações entronizou-se como única bússola moral de uma sociedade em pânico. Vivemos um daqueles momentos deploráveis, onde os alegados fins justificam os meios e ditadores pretensamente benevolentes assaltam nossas opções em nome do nosso próprio bem e do bem comum.
Prostrados ociosos em nossas casas e submetidos a altíssimas doses de noticiário monotemático, o cenário era de hipnose coletiva. Um transe global do qual apenas o próprio agente mesmerizador nos poderia despertar. E foi justo o que ocorreu. Com dois estalos, a mesmíssima OMS declarou em um só dia que encorajava pessoas a participar de aglomerações para protesto, desde que o fizessem de maneira segura “com as mãos limpas, usando máscaras e mantendo distanciamento” e que a “transmissão por assintomáticos é muito rara”. Tornou-se impossível a manutenção da farsa.
Como pode existir uma “maneira segura” de se aglomerar aos milhares para protestar (lavando as mãos, usando máscaras e mantendo certa distância), mas não existe alternativa segura, usando as mesmas medidas, para trabalhar ou para dar um último adeus a um ente querido? Visto que o grosso da transmissibilidade se dá durante o período sintomático, por que bilhões de pessoas saudáveis foram confinadas em casa, quando a experiência milenar da humanidade sempre consistiu exatamente em isolar os sintomáticos e seus contatos, cortando assim o principal motor do contágio? Que tipo de gente propagandeia uma inédita quarentena de saudáveis, com todas as suas consequências catastróficas, ao mesmo tempo em que incentiva a participação “segura” em aglomerações com fins políticos?
É fato absolutamente previsível. Quando os historiadores do futuro se dedicarem a revisitar este período de psicopatia, desumanização e ultraje, será notado que o núcleo da nossa moral -- justamente a característica que nos torna humanos --, já não mais podia ser salvo num leito de UTI. Imersos numa pandemia de hipocrisia e planejamento central, a humanidade morria em seus valores mais sagrados, enquanto contávamos os corpos tragicamente arrestados pelo coronavírus.
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