A pandemia de Covid-19 certamente exercerá forte influência nas eleições, sobretudo nas de 2020, tendo em vista as posturas adotadas por cada governante e potencial candidato para conter as mortes pela doença e a propagação do vírus.
De acordo com a pesquisa mais recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em parceria com o instituto MDA, Jair Bolsonaro apresentou o seguinte desempenho em relação à opinião pública: 32% positivo; 23% regular; e 42% negativo, sendo que, já no primeiro bimestre de governo, contava com 19% de avaliação negativa, cerca de metade do percentual mais recente, o que pode ser explicado pela polarização política mais acirrada desde a ascensão do bolsonarismo.
Comparando com o desempenho dos presidentes brasileiros pós-redemocratização que conseguiram se reeleger, Fernando Henrique, Lula e Dilma, constata-se que em todos os casos havia, na pesquisa da CNT mais recente antes da votação, avaliação positiva abaixo de 50%, mas, somada à avaliação regular, superava o percentual de avaliação negativa, como ocorre no caso de Jair Bolsonaro.
Positiva
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Regular
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Negativa
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FHC (julho de 1998)
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31%
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46%
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26%
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Lula (agosto de 2006)
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43,6%
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39,5%
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15,6%
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Dilma (setembro de 2014)
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41%
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35%
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23,5%
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Ademais, todos os referidos presidentes reeleitos, apesar de não ter alcançado 43% de avaliação negativa, chegaram a apresentar avaliação positiva inferior à de Jair Bolsonaro no epicentro da pandemia.
Positiva
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Negativa
|
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FHC
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31%
|
26%
|
Lula
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29,4%
|
29%
|
Dilma
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31,3%
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30,6%
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O fato de todos os presidentes brasileiros da história recente terem obtido mais de 50% dos votos válidos com menos de 50% de avaliação positiva nas vésperas da votação, além de, em algum momento do mandato, terem apresentado avaliação positiva inferior à de Jair Bolsonaro no epicentro de uma grave crise, como a da pandemia de Covid-19, e ainda distante da disputa pela reeleição, mostra que a referida conjuntura, por si só, não pode ser considerada como eleitoralmente negativa aos bolsonaristas. Isso se dá porque avaliar negativamente um governo não implica em rejeição eleitoral, dado que a avaliação da administração não é comparada e a eleição obriga o eleitor a ponderá-la com outras opções disponíveis, que ele pode considerar piores que o atual governante. Tal conclusão é reforçada por pesquisas de intenção de voto caso a eleição para presidente fosse nos dias de sua realização, onde Jair Bolsonaro lidera tanto na pesquisa espontânea, feita entre 14 e 17 de maio pela Revista Fórum, quanto na estimulada, feita entre 26 e 29 de abril pelo instituto Paraná Pesquisas, em todos os cenários, possui o maior percentual de intenção de voto convicta e a segunda menor rejeição:
Outros fatores que corroboram a tese de que a pandemia não enfraqueceu, até o momento, o potencial político de Jair Bolsonaro e seus apoiadores são: o fato de estar ocorrendo um número de manifestações de rua em seu favor, continuamente em seguidos domingos desde o dia 18 de abril, bastante superior ao de manifestações de rua contrárias; e o índice de aprovação do presidente, medido pelo Poder 360 entre 6 e 8 de julho, acima do geral, entre os beneficiários do Auxílio Emergencial, que, além fornecer um alento financeiro aos mais necessitados em meio à recessão, contempla 46 milhões de brasileiros que não possuíam CPF ativo, acesso regular à internet ou conta em banco:
A população mais pobre, além de ter extrema necessidade por fontes de renda para manter seu sustento, em virtude da baixa capacidade de poupança, tende a apresentar resistência e ceticismo ao alarme de uma doença aparentemente semelhante às gripes, tendo em vista a variedade de graves enfermidades com as quais já convivem cotidianamente em regiões com saneamento básico precário. Outra pesquisa, do instituto Paraná Pesquisas, aponta que, quanto menos instruídos os cidadão brasileiros, mais acreditam que há menos infectados do que os números reportados pelos governos, indicando uma visão mais branda da doença pelos mais pobres, onde há menor grau médio de instrução. Isso provavelmente constitui um fator influente na formação de opinião sobre as políticas de quarentena, tendendo a ser negativa por conta da privação do trabalho e pela motivação questionada.
Ademais, a confiança da população brasileira em meios de comunicação tradicionais, como as emissoras de TV e grandes jornais, que advogam ostensivamente pelas medidas de isolamento radical e criticam continuamente o governo federal, se mostrou extremamente baixa na pesquisa mais recente da CNT sobre o assunto, entre 15 e 18 de janeiro. Apenas 2,3% dos entrevistados afirmaram confiar na imprensa, sendo que 40,7% afirmaram que confiam poucas vezes nos meios tradicionais e apenas 7,6% afirmaram que confiam sempre. Por outro lado, instituições como o Corpo de Bombeiros (29,1% de confiança), a Igreja (25,8% de confiança), as Forças Armadas (11,7% de confiança) e a Polícia (7,1% de confiança), que possuem forte ligação com a base de apoio do governo Bolsonaro, são as instituições mais confiáveis entre os entrevistados.
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