Todos sabemos dos resultados vexatórios do Brasil nas avaliações internacionais voltadas para educação, nas quais nosso país encontra-se atrás de países muito mais pobres e que investem menos em educação do que nós, como Indonésia, Geórgia e Colômbia. Além disso, temos 38 milhões de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que leem e escrevem, mas possuem graves dificuldades na hora de entender o que se leu ou organizar ideias textualmente. Dados esses problemas, é comum a busca por um culpado desse fracasso. Alguns atribuem à desigualdade, outros aos professores, ao sistema em si e, recentemente, à pedagogia de Paulo Freire. Muitos colegas e conhecidos têm corriqueiramente atribuído a culpa do nosso fracasso educacional a Paulo Freire. Mas quem foi essa figura que gera amor e repulsa nas discussões atuais sobre educação?
Paulo Heglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921 no Recife, capital do estado brasileiro de Pernambuco, e morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997. A partir de suas primeiras experiências no Rio Grande do Norte, em 1963, quando ensinou 300 adultos a ler e a escrever em 45 dias, Paulo Freire desenvolveu um método de alfabetização, cujo projeto educacional estava vinculado ao nacionalismo desenvolvimentista do governo João Goulart. Na política, integrou o PT, tendo sido Presidente da 1ª Diretoria Executiva da Fundação Wilson Primeiro, fundação de apoio partidária instituída pelo PT em 1981; além de Secretário de Educação da Prefeitura Municipal de São Paulo na gestão petista de Luiza Erundina (1989-1992).
Esse seria, então, o lado que a mídia e os cursos de licenciatura falam sobre esse educador pernambucano. No que consiste à figura de Paulo Freire para a educação é necessário desmistificar três fatos importantes que deliberadamente são repetidos pelos seus defensores: Paulo Freire foi um humanista que sempre pregou o diálogo e o amor; Paulo Freire é um autor celebrado e aceito quase que unanimamente na academia e entre os especialistas em educação fora do país; a sua obra é inovadora e é a saída para a educação brasileira.
Primeiramente, Paulo Freire não era um idoso amável democrata preocupado com a educação brasileira, mas sim, um defensor de ditaduras sangrentas como a cubana e a soviética. Vejamos das suas próprias palavras:
Na verdade, porém, por paradoxal que possa parecer, na resposta dos oprimidos à violência dos opressores é que vamos encontrar o gesto de amor. Consciente ou inconscientemente, o ato de rebelião dos oprimidos, que é sempre tão ou quase tão violento quanto a violência que os cria, este ato dos oprimidos, sim, pode inaugurar o amor. (Pedagogia do Oprimido, p.48)
Uma das coisas mais importantes para entender-se em Paulo Freire é que a linguagem é a sua espada no campo de batalha ideológico, o que o levará diversas vezes a disfarçar a violência revolucionária ou até justificá-la numa espécie de novilíngua, demonizando o sistema vigente para justificar os atos violentos gerados por revolucionários.
Paulo Freire, admirador do regime cubano, enaltece a disciplina imposta por Che Guevara à classe trabalhadora, defendendo a punição exemplar de desertores.
No relato já citado que faz Guevara da luta em Sierra Maestra, relato em que a humildade é uma nota constante, se comprovam estas possibilidades, não apenas em deserções da luta, mas na traição mesma à causa. Algumas vezes, no seu relato, ao reconhecer a necessidade da punição ao que desertou para manter a coesão e a disciplina do grupo, reconhece também certas razões explicativas da deserção. (Idem. P.195)
O que Paulo Freire não cita é como são essas punições exemplares aos desertores. Vejamos o que diz o relato citado, pasajes dela guerra revolucionária:
Reuní toda la tropa en la loma anterior al teatro del suceso macabro explicandole a nuestra guerrilla lo que iba a ver y lo que significaba aquelo; el por qué se castigaría con la muerte la deserción y el por qué de la condena que había que hacer contra todo aquel que traicionara la Revolución.
Reuni toda a tropa no morro antes do teatro do acontecimento macabro, explicando ao nosso guerrilheiro o que ele iria ver e o que isso significava; porque a deserção seria punida com a morte e porque a sentença que deveria ser feita contra quem traísse a Revolução. (Pasajes dela Guerra Revolucionária, P.41)
Los trámites fueron muy expeditivos, dada sua condición de desertor, procendiéndose a sua eliminación fíisica. (Pasajes dela Guerra Revolucionária, P.48)
Os procedimentos foram muito ágeis, dada a sua condição de desertor, procedendo à sua eliminação física. (Pasajes dela Guerra Revolucionária, P.48)
Em outras palavras, Freire endossou o fuzilamento de desertores. Esse militante da revolução proletária demonstra-se implacável no que tange à causa revolucionária. Vejamos abaixo mais um exemplo.
A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida. Não há vida sem morte, como não há morte sem vida, mas há também uma “morte em vida”. E a “morte em vida” é exatamente a vida proibida de ser vida.
Temos aqui mais um eufemismo para justificar a violência revolucionária. O burguês, o homem do sistema vigente, o opressor, retira vidas, então, é necessário que ele morra para que outra vida surja. O vocabulário de Paulo Freire está imerso na luta de classes e, consequentemente, na total demonização do outro. No seu discurso é recorrente o uso de um tom depreciativo e desprezível sempre que cita termos como conservador, neoliberal.
No que tange ao nome internacional de Paulo Freire, muitos repetidamente dizem que ele possui grande reconhecimento. Sim, esse tipo de reconhecimento existe, muitas das vezes, mais levado pelo aspecto ideológico do que como pedagogo em si. Mas isso não quer dizer que Freire não é um autor duramente criticado também. Vejamos um pouco do que dizem os seus críticos:
“Alguns veem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a veem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It’s All About”, New Internationalist, Junho de 1974.)
“A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.” (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Association em Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.)
“Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática.” (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.)
“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)
Como podemos ver, são críticas severas, e que norteiam para um caminho: a pedagogia de Paulo Freire é vaga, falta uma direção prática e se preocupa muito mais em formar partícipes de uma revolução do que estudantes capazes, de ler, escrever, interpretar e calcular.
Nesse tipo de pedagogia existe uma dominância de certos tipos de textos que acabam acarretando um certo tipo de visão de mundo, muito restrito, sobre o qual o próprio Paulo Freire, que diz claramente que a sala de aula é um lugar para você exercer os seus pleitos políticos, que a sala de aula é para libertar as pessoas.
De certo modo, a sala de aula é um ambiente libertador, mas tal libertação vem através do conhecimento, do desenvolvimento das capacidades de um estudante, não por mera panfletagem, na qual, se você não apoiar um partido x ou y, não serviu de nada.
Para a prática "bancária”, o fundamental é, no máximo, amenizar esta situação, mantendo, porém, as consciências imersas nela. Para a educação problematizadora, enquanto um que fazer humanista e libertador, o importante está, em que os homens submetidos à dominação, lutem por sua emancipação. Por isto é que esta educação, em que educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo, superando o intelectualismo alienante, superando o autoritarismo do educador “bancário”, supera também a falsa consciência do mundo. (Pedagogia do Oprimido, P. 49).
Na Pedagogia do Oprimido, o modelo tradicional de educação, aquele legado pela cultura ocidental, é chamado de "educação bancária". Segundo o autor desse livro, é uma alusão ao processo de depósito em um caixa, logo o professor seria um ser depositante de conhecimento nos alunos.
Primeiramente, isso é falso. O professor, na verdade, apresenta um conhecimento ao estudante que, por algum motivo, antes não lhe havia sido entregue, cabe a esse estudante passá-lo à frente e/ou aplicá-lo quando isso for necessário. Além disso, o intelectualismo não é alieante, pelo contrário, é a sua ausência que aliena. É a ausência de intelectualismo que faz levar a sério alguém que diz isso:
É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao for-mar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.
O leitor desatento se depara com essa sentença e acha que é algo de complexidade além do que ele capaz, mas simplesmente não se está dizendo nada além de um joguete de palavras, vazio de significado, mas que dá ares de intelectual a quem o profere.
Devemos considerar que, no Brasil, há diversos problemas educacionais, construídos historicamente e que até hoje não foram sanados. Seria leviano dizer que todos são culpa de Paulo Freire, porém, não podemos eximi-lo da responsabilidade no que tange à má formação de professores e de mentalidade reducionista de educação que torna o professor o militante da causa revolucionária, fugindo do seu maior dever, que é preparar intelectualmente jovens para a vida adulta e o mercado de trabalho.
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