O acalorado confronto entre os prefeitáveis pessoenses, iniciado em pleno horário do almoço, ao meio dia, apresentou uma toada bastante diferente do primeiro, como já era esperado. Questões morais, profissionais e administrativas dos candidatos e de aliados foram muito mais exploradas, mas sem deixar de contemplar propostas, até mesmo por conta da existência de um bloco apenas com temas sorteados a serem respeitados nas perguntas de cada debatedor.
O início não poderia ter sido mais movimentado, com o candidato Wallber Virgolino (Patriotas), aquele com maior margem e condição para realizar críticas aos demais prefeitáveis no aspecto moral, por ter uma forte imagem de combate ao crime, perguntando ao visado candidato Cícero Lucena (Progressistas) sobre como pretende fazer algo diferente do que sua coligação, que carrega a mácula de pelo menos quatro operações policiais (Confraria, Pés de Barro, Calvário e Xeque Mate), ficou conhecida por realizar caso seja eleito prefeito novamente. Na resposta, Cícero lembrou que foi inocentado pelo TCU em um processo e usou uma estratégia que foi reeditada ao longo do dia por praticamente todos os candidatos confrontados por eventuais casos de ilicitude que envolvem seu nome ou de aliados: afirmou que o debate estava sendo levado a baixo nível pelo adversário que relembra seus processos e máculas morais.
Outro aspecto que ficou evidente no debate foi uma maior agressividade geral, adotada inclusive ao se esmiuçar a viabilidade das propostas de cada oponente e a coerência delas para com seu respectivo propositor, como pôde ser claramente observado com Nilvan Ferreira (MDB), que foi apontado como um candidato que "fala bem, mas não explica suas propostas", e com Raoni Mendes (DEM), que foi acusado de "falar quais são os problemas, mas não apresentar soluções". A candidata Edilma Freire (PV) demonstrou postura que incorpora cada vez mais a defesa da gestão do atual prefeito e seu apoiador, Luciano Cartaxo (PV), revelando a confiança dela e de sua assessoria na ideia de que a atual administração é mais aprovada do que reprovada pela população e também a estratégia de colocar a si mesma como correalizadora dos feitos da atual gestão. Isso, no entanto, também a expõe a mais críticas, as que seriam feitas ao prefeito, que se somam às que já seriam feitas à candidata. Isso ocorreu nitidamente, com os questionamentos feitos a ela tanto sobre maus resultados na área da qual esteve à frente, Educação, quanto em assuntos que, enquanto secretária dessa pasta, tinha relação praticamente nula, no caso da infraestrutura precária de moradias populares construídas pela prefeitura, por exemplo.
A despeito de todos os elementos do evento, o foco máximo foi o bastante tenso embate entre Wallber e João Almeida (Solidariedade), que começou quando o segundo realizou um ataque aleatório ao primeiro, sem nenhuma ligação com seu oponente da vez, Nilvan, nem com o assunto discutido com este, acusando o delegado de ter usado recursos da verba de gabinete da Assembleia Legislativa com gastos pessoais durante a pandemia. O ataque foi rebatido com acusação semelhante, lembrando que João, atualmente vereador, teria gasto sua verba de gabinete durante a pandemia para ir a Noronha, e a insinuação que teria supostamente viajado com uma amante. Wallber usou o confronto para, a despeito da questionável finalidade do uso de sua verba de parlamentar, tentar enaltecer que é um conservador genuíno, pois estava com sua família, enquanto seu acusador teria problemas conjugais. Além disso, lembrou que, no período, disponibilizou cestas básicas e articulou vagas para exames médicos para a população. Essa quente trocação finalizou o bloco com bate-boca entre ambos, tempo de fala de Wallber interrompido e áudio dos microfones cortado pela produção da Rádio. Politicamente, representou um ganho atípico de holofotes para João, um claro coadjuvante na eleição, a massificação do estilo aguerrido de Wallber, que o associa cada vez mais a Jair Bolsonaro perante o eleitorado, e uma má impressão como efeito de curto prazo para ambos, que inegavelmente desceram o nível nessa discussão, com questões pouco relevantes.
Ademais, Ruy Carneiro (PSDB), ao atacar seu antigo tutor político, Cícero, teve seu passado como discípulo deste evidenciado pelo próprio ex-mentor, que claramente esteve desgastado durante todo o debate perante os incontáveis processos aos quais respondem vários membros de sua coligação. O candidato Ricardo Coutinho (PSB), que poderia ter comparecido a este debate, já que começou e terminou bem antes do horário em que precisa estar em casa por determinação da Justiça, o que dificilmente deve se repetir nos demais debates, optou por não participar. Essa atitude de Ricardo, apontado como um dos mais ativos participantes do escândalo de corrupção investigado na Operação Calvário, coloca Cícero ainda mais na berlinda, por ser, entre os debatedores presentes, o mais próximo do governo do estado, também bastante envolvido no processo.
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