Orgulho do bem

Orgulho do bem


Até mesmo o santo mais desapegado tinha uma noção muitíssimo aguçada do seu próprio Eu, e uma grande estima por sua própria existência — e pessoa. 

Quanto mais o Eu do Santo busca esquecer-se de si mesmo, quanto mais ele abandona a si mesmo no EU de Deus — tanto mais o eu dele (pessoal) aparece. 

O eu pessoal continua presente na retaguarda do Santo, só que nele existe um eu firme, intimamente atado ao Eu divino, envolto num campo de força inquebrantável onde cresce seguro e consciente; porque Deus está perto dele. 

O eu nasce na retaguarda e avança até se realizar (se executar) na vanguarda. 

Eis o nosso movimento. 

Na retaguarda nosso eu obtém a força do EU divino e decide rumar; e avante se lança (acompanhado somente do Eu divino) em sua missão. 

Na medida em que a autoridade do Eu de Deus se afirma em nós, cresce também a nossa autoridade sobre o mundo e a nossa dignidade em escolher pelo bem contra o mal e os bons aos maus. 

O bem nos é concedido por Deus como um poder; o poder de escolher para quem eu entrego o amor e em qual atividade eu quero e devo empregar este amor. 

No final o santo, por mais simples que queira e pareça ser, é o cão de guarda da propriedade de Deus, que é ele mesmo, e o fiel depositário dos bens de Deus, que são os bens (virtudes, dons e talentos) que ele mesmo herdou. 

Não há cultivo da virtude em uma personalidade que ignore a sua unicidade e a sua singular origem na Pessoa por excelência, a Pessoa de Deus, que É muitíssimo satisfeita de suas intrínsecas capacidades e feitos. 

A origem de nosso Eu está no bom orgulho, no EU orgulhoso de Deus. 

Deus foi generoso ao ponto de permitir compartilhar conosco o universo que Ele criou para satisfazer, no final, a Ele mesmo. Está dito na tradição, está vivo na mística, está escrito nos livros santos (lembro aqui do livro A Fé Explicada, do Padre Leo J Trese): “Deus ama a si mesmo por meio de nós”. 

Somente quando somos abarcados pelo amor que Deus deliberadamente nos entrega é que nos sentimos gratificados e honrados — e verdadeiramente amados. 

Nosso eu é relativo ao EU de Deus, só o d’Ele é absoluto. Nem por isso perdemos o nosso eu; que se fortifica na medida em que se percebe diferente do eu dos outros. 

Desta salutar diferença dos “eus” surge a interdependência entre eles, em que o eu de um precisa das qualidades do eu do outro. E a verdadeira caridade se faz. 

O significado de nossa vida consiste, pois, em rememorar esta honra original que nos faz orgulhosos de nós mesmos, por sermos criaturas únicas, com procedência e linhagem próprias, seguindo um caminho igualmente único. 

Orgulhe-se de sua inteligência, de seu temperamento, de sua beleza, de sua falta de beleza. Só não se permita parar. Só não se conforme em ser vazio. 

Deus quer sua prosperidade. Deus quer ver crescimento. Deus quer sua felicidade. 

A falsa modéstia é a mentira que o Satanás implantou na tua cabeça para te afastar da tua essência. E a timidez é a barreira que ele pôs em teu caminho. 

Mas a saída está diante dos teus olhos, ou melhor, dos teus ouvidos; é a voz divina, sutil, relembrando quem é você.


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