O debate realizado na última terça-feira (10), na Correio FM, foi bastante conciso em relação aos demais, adotando o modelo tradicional, de um contra um, réplica e tréplica, mas apresentando apenas dois blocos, o que deixou cada participante com apenas duas perguntas e duas respostas no total. No entanto, tal fato não deve ter cerceado de forma relevante os conteúdos a serem expostos, já que após cinco debates e várias semanas de campanha as ideias colocadas tornam-se cada vez mais repetitivas, com poucas novidades.
Houve, fundamentalmente, a reafirmação das respectivas linhas de base retórica dos candidatos: experiência; tecnicismo; moralidade; liberdade econômica; estatismo; continuísmo; e assistencialismo. Com uma rotineira ausência inexplicada de Ricardo Coutinho (PSB), Ruy Carneiro (PSDB) novamente fez uso do assunto para ocupar espaços no eleitorado mais moralista, sobretudo de classe média, e dessa vez teve Wallber Virgolino (Patriotas), mais focado na polarização com Cícero Lucena (Progressistas) e em desafiar Edilma Freire (PV) a assumir o compromisso de reabrir o comércio e não realizar lockdown, na mesma toada. Wallber inclusive ofereceu uma forte proposta de polarização, entre "bandidos e polícia", sendo a segunda representada por ele. Uma ideia que, quando confrontada com Nilvan Ferreira (MDB), o forçou a usar indiretas para questionar a legitimidade do processo do qual é réu, relacionado à sua loja de vestuário, e a negar envolvimento em processos que não possuíam ligação com a discussão. A tática foi evidenciada como sofística, inclusive por sua principal adversária na reta final da campanha, Edilma, e sua postura em se esquivar do debate moral, quando toda a sua trajetória no jornalismo foi focada nele, foi apontada por Wallber como conveniente para evitar o próprio desgaste.
O outro destaque foi capitaneado pelo candidato João Almeida (Solidariedade), que de forma apelativa e até leviana acusou Wallber de ser corrupto, sem nem ao menos fundamentar a ofensiva ou mesmo explicá-la. A atitude esquentou os ânimos, criando embates bastante ríspidos e extensos nos bastidores entre ambos e ensejou uma provocação final por parte do acusado, que desafiou seu acusador a fazer teste toxicológico. Ademais, João protagonizou uma dobradinha que pode ter reforçado uma tese professada por seu principal alvo no debate. Ao afirmar, em pergunta a Raoni Mendes (DEM), que se ele (João) não fosse eleito, que Raoni o fosse, pode ter confirmado o seu suposto intuito de contribuir para a divisão dos votos do eleitorado bolsonarista e impedir que o representante mais forte deste chegue ao segundo turno, com reais chances de vencer a eleição. A possível artimanha voltada a enfraquecer adversários específicos também é fortalecida quando se observa a postura de João nos debates, focando em ataques e críticas contundentes a Edilma e Wallber, em revesamento, possivelmente os dois mais cotados a ocupar a segunda vaga para o segundo turno contra Cícero.
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