Uma análise do debate da TV Correio

Uma análise do debate da TV Correio


À véspera da última semana de campanha antes do dia da votação, a TV Correio realizou um bem organizado debate, cujo formato fluiu com notável eficiência e objetividade, durando metade do tempo médio dos outros debates já realizados entre os prefeitáveis de João Pessoa. A maioria dos participantes demonstrou maior assertividade nas falas e nas posturas, algo que é fruto do acúmulo de experiências recentes em confrontos como esse e do ânimo da campanha, já em fase final. 

Pleitos em que há muitos candidatos, como é o caso na capital paraibana, requerem formatos adaptados aos debates, pois o modelo tradicional de um contra um, com réplica e tréplica, torna o evento muito demorado e pouco objetivo, além de afastar o público. O mecanismo das participações do debate da TV Correio se deu com três candidatos por vez, em que um perguntava, um respondia, um comentava e o primeiro arrematava. Isso gerou embates mais dinâmicos e atrativos. Outro destaque do evento foi uma nova ausência do candidato Ricardo Coutinho (PSB), que alegou como motivo, por meio de sua assessoria, o fato de ser contra o Sistema Correio de Comunicação, e optou por realizar uma live no mesmo horário. Sua falta foi aproveitada como gancho por alguns candidatos, sobretudo por Ruy Carneiro (PSDB), que tem adotado frequentemente a tática de forjar uma polarização com o ex-governador, além de ressaltar seus feitos como deputado federal, mas não se firmando ideologicamente de forma clara.

Cícero Lucena (Progressistas), que nas pesquisas é líder em intenção de voto, vice-líder em rejeição e parece estar com uma vaga encaminhada ao segundo turno, apesar de demonstrar nítida exaustão, se esforçou em valorizar sua experiência como gestor, embora tenha sofrido diversas críticas dos adversários durante o debate sobre famosos gargalos de sua gestão, como o viaduto Sonrisal e a Torre de Babel, que, junto à pecha de "candidato da Calvário", têm se tornado rotineiras em seus embates. No entanto, esta última acusação esteve ausente no debate, dando lugar à citação de processos aos quais pessoalmente responde, como fez Wallber Virgolino (Patriotas). Tal substituição parece ter tido como uma das principais causas a presença de Ricardo na disputa, que, com poucas chances de segundo turno, vem usurpando o foco negativo da candidatura mais forte vinculada a um dos principais personagens da operação Calvário, o governador João Azevêdo (Cidadania). Do outro lado de uma polarização cada vez mais bem constituída com Cícero, Wallber destacou-se, por discurso e associação de imagem, como aquele que mais personifica o combate à corrupção e o antagonismo ao Sistema, tendo em vista a sua profissão, seu currículo e a ênfase verbal que emprega no assunto. Ele nitidamente aposta no afloramento do sentimento de rejeição aos políticos tradicionais e de revolta para com os protagonistas de escândalos de corrupção, além de se firmar no espaço de representante do eleitorado bolsonarista de João Pessoa, algo que já faz desde 2018 no âmbito estadual, quando se elegeu para a Assembleia Legislativa. Na parte final do debate, chamou atenção ao ser o único a firmar compromisso com a reabertura das escolas públicas e privadas, além do comércio em geral, e a não realização de lockdown, se redimindo de certo nervosismo apresentado durante alguns embates.

Edilma Freire (PV) reafirmou a adesão ao modo de governar de seu concunhado e padrinho político, o prefeito Luciano Cartaxo (PV), e focou no que é possível à prefeitura realizar e continuar com recursos vindouros. Ademais, sua clara limitação em oratória e pouco arcabouço argumentativo quando se trata de gargalos da atual gestão foram explorados, sobretudo por João Almeida (Solidariedade), que ousou ridicularizá-la ao evidenciar os erros gramaticais básicos de suas falas em pleno debate, enaltecendo um incômodo paradoxo entre profissional da educação e despreparo elementar. O algoz de Edilma, no entanto, foi novamente confrontado com seu histórico de apoiador ferrenho do atual prefeito, tendo ocupado, além de vaga na base aliada da Câmara Municipal, secretaria de governo. O principal adversário de eleitorado da candidata do governo, Nilvan Ferreira (MDB), cujas intenções de voto são diretamente ameaçadas por uma eventual curva ascendente dela, impulsionada pela forte estrutura da máquina pública municipal, ainda tenta, insistentemente, ganhar a simpatia do eleitor de classe média, com discurso pretensamente técnico, vice militar e propostas de fomento econômico, não obstante, vem demonstrando insucesso na empreitada, em muito por conta do vínculo com José Maranhão (MDB), seu padrinho político, visto como ícone da velha política, até literalmente; da associação com o escândalo investigado pela operação Vitrine; e da imagem de populista e sensacionalista, já advinda de sua atuação como apresentador. A moralista e economicamente liberal classe média naturalmente não compatibiliza com a essência de seu perfil e plataforma.

Os coadjuvantes de extrema esquerda tiveram sua narrativa até favorecida em certos momentos pelo formato do debate, que, por vezes, ajuntava três representantes do socialismo radical e ensejava uma utópica e totalitária conversa de compadres. Serviram também, como sempre, de geradores de publicidade aos candidatos que não ocupam seus segmentos, ao fazer a eles críticas e ataques, quase em sua totalidade infundados, eivados de vícios de linguagem socialista, o que proporciona aos seus alvos a simpatia da maioria do eleitorado da cidade, altamente inclinado ao conservadorismo. Já Raoni Mendes (DEM) mantém a aposta em destilar tecnicismos na tentativa de diferenciar-se dos concorrentes. Uma estratégia de sucesso improvável, tendo em vista o baixo grau médio de instrução dos eleitores, não só da cidade em questão, mas por todo o país, o que faz com que criem certa aversão a discursos sofisticados e identificação com simplicidade e carisma; e o fato de qualquer candidato dotado de estrutura de campanha minimamente robusta dispor de equipe de técnicos qualificados o suficiente para prepará-lo, criando no pleito um mar de tecnicismos no qual a boa oratória cria destaques leves.


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