Brasil: Bolsonaro fala sobre sua conversa vazada com Kajuru

Brasil: Bolsonaro fala sobre sua conversa vazada com Kajuru


Em conversa divulgada entre o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), o presidente cobra que a CPI da Covid, cuja abertura foi exigida pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, seja instalada de forma ampla, para que as investigações incluam, além do governo federal, os governos estaduais e municipais. Caso não seja feito dessa forma, e seja investigado apenas o governo federal, o presidente afirmou que o resultado será um “relatório sacana”.

Sobre a divulgação da conversa, o presidente lamentou a que ponto chegou o país, com conversas particulares do presidente sendo divulgadas, mas afirmou que não foi divulgado o áudio na íntegra, e que em relação ao que ele falou, pode ser divulgado tudo.

“Eu fui gravado em uma conversa telefônica, tá certo?! Olha a que ponto chegamos no Brasil. A gravação é só com autorização judicial. Gravar o presidente e divulgar? Mas só para controle, falei mais coisas naquela conversa lá. Pode divulgar tudo da minha parte”, afirmou Bolsonaro

Veja conversa na íntegra:

Bolsonaro: Então uma CPI completamente direcionada à minha pessoa. 
Kajuru: Não, presidente, a gente pode convocar governadores. 
Bolsonaro: Se você não mudar o objeto da CPI, você não pode convocar governadores. 
Kajuru: Tá, mas eu vou mudar. Eu quero ouvir os governadores. 
Bolsonaro: Se mudar [trecho inaudível], porque nós não temos nada a esconder. 
Kajuru: Não, eu não abro mão de ouvir governadores em hipótese alguma. 
Bolsonaro: Então, olha só... 
Kajuru interrompe: Eu só não quero que o senhor me coloque no mesmo joio. 
Bolsonaro: Olha só, você tem que fazer, tem que mudar o objetivo da CPI. Tem que ser ampla. 
Kajuru: Ampla, claro. 
Bolsonaro: CPI da Covid no Brasil. Daí você faz um excelente trabalho pelo Brasil. 
Kajuru: Exato. O que eu quero fazer é isso. Eu não vou manchar meu nome de forma alguma. 
Bolsonaro: Você não é o autor da CPI, então o objetivo do autor, que eu não sei quem é, como tá lá, é investigar omissões do governo federal no combate à covid. 
Kajuru: Não é meu caso. 
Bolsonaro: Tudo bem. 
Kajuru: Eu acabei de declarar para o Augusto Nunes, mas eu quero dizer que eu não posso ser colocado no mesmo joio, não é, presidente? Nas suas entrevistas, o senhor coloca como se todos nós fossemos iguais. Aí não é certo. 
Bolsonaro: A CPI hoje é para investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro. Ponto final. 
Kajuru: O senhor pode dizer: 'Não é o que pensa o senador Kajuru que quer fazer uma investigação completa'. 
Bolsonaro: Kajuru, se não mudar o objetivo da CPI ela vai só vir para cima de mim. 
Kajuru: Mas não vai, presidente. Tem a opinião de outros. São 11 titulares e 8 suplentes. A opinião de um não prevalece. Vai prevalecer a quem concordar. Eu não concordo com coisa errada, presidente. 
Bolsonaro: Kajuru, olha só: Tem que fazer para ter uma CPI que realmente seja útil para o Brasil. Mudar a amplitude dela, bota governadores e prefeitos. 
Kajuru: Sim, vou mudar. 
Bolsonaro: Presidente da república, governadores e prefeitos. 
Kajuru: Eu fui o primeiro a assinar para governadores e municípios. O senhor pode ver lá. Portanto, eu concordo com a amplitude. 
Bolsonaro: Tá ok. Se mudar a amplitude, tudo bem, mas se não mudar, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa para fazer um relatório "sacana". 
Kajuru: Isso ai eu não faço nunca, pela minha mãe. 
Bolsonaro: Vamos lá, Kajuru, coisa importante aqui: A gente tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto o que está aí é um limão, e tá para sair uma limonada. Acho que você já fez alguma coisa. Tem que peticionar o supremo e colocar em pauta o impeachment também. 
Kajuru: E o que eu fiz? O senhor não viu o que eu fiz não? 
Bolsonaro: Parece que você fez. Fez pensando em investigar quem? 
Kajuru: O Alexandre de Moraes, ué. 
Bolsonaro: Tudo bem. 
Kajuru: O do Alexandre de Moraes meu já está lá engavetado pelo Pacheco, só falta ele liberar, correto? 
Bolsonaro: Você pressionou o Supremo, né? 
Kajuru: Sim, claro. Eu entrei contra o Supremo. Entrei ontem às 17h40. 
Bolsonaro: Parabéns para você. 
Kajuru: Eu só queria que o senhor desse crédito para mim nesse ponto. 
Bolsonaro: Kajuru, de tudo o que nós conversamos aqui, nós estamos afinados, nós dois. É CPI ampla, investigar ministros do Supremo. 
Kajuru: E nunca "revanchista". 
Bolsonaro: Dez para você. Tendo a oportunidade, eu falo com as mídias e sinto que a minha conversa contigo, ampla CPI do Covid. E também o Supremo. 
Kajuru: Exatamente. Se ele fez com a CPI tem que fazer também com o ministro. 
Bolsonaro: Sim. 
Kajuru: Quer dizer, então é a coisa justa. O que é difícil pra mim é que eu tenho uma posição dessa, presidente, e aí todo mundo vem contra mim porque a fala do senhor generaliza todo mundo. Não é só eu não. Acho que o senhor precisa separar o joio do trigo. 
Bolsonaro: Kajuru, olha, qualquer pessoa que eu conversar vou dizer o seguinte: 'O Kajuru foi bem intencionado, só que a CPI era restrita. Só que agora ele vai fazer o possível para ter uma CPI ampla. Da minha parte, não tem problema nenhum. Ele inspecionou o Supremo, que deve ser o Barroso. 
Kajuru: Deve ser não, tem que ser, por causa daquela palavra jurídica "pretento", então juridicamente ele é obrigado a opinar, ele não pode botar na mão de outro ministro. 
Bolsonaro: É "prevento". Ele vai ter que despachar. 
Kajuru: Ele não pode colocar na mão de outro. Modéstia à parte, eu acho que fui bem nessa. 
Bolsonaro: Bem não, você foi dez. Acho que o que vai acontecer, eles vão ponderar tudo. Não tem CPI nem tem investigação do Supremo. 
Kajuru: Ou bota tudo, ou zero a zero. 
Bolsonaro: Eu sou a favor de botar tudo pra frente. 
Kajuru: É, claro, vamo pro "pau". 
Bolsonaro: A questão do vírus, ninguém vai curar, não vai deixar de morrer gente infelizmente no Brasil. Um dia morre menos gente se os prefeitos todos pegassem recursos e investissem em postos de saúde, hospital. 
Kajuru: Presidente, eu sou justo. Nunca pedi uma agulha para o senhor. 
Bolsonaro: Estamos 100% assinados. 
Kajuru: Eu só quero pedir justiça, presidente. 
Bolsonaro: Se você me pedir algo, sei que vai fazer bom uso. 
Kajuru: O senhor me ajudou no que, foi o único presidente da república da história do Brasil que ajudou a diabetes. E isso aí é toma lá da cá? 
Bolsonaro: Tem nada a ver. 
Kajuru: Pelo amor de Deus, não é? 
Bolsonaro: Tá certo. 
Kajuru: Abraço para você. Bom final de semana e saúde. 
Bolsonaro: Valeu, até mais.


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