O início se deu com perguntas de jornalistas aos candidatos, que, no geral, apresentaram respostas equilibradas, com sutis trocas de farpas. O começo dos embates entre oponentes propriamente dito não poderia ter sido mais icônico, com uma incisiva indagação do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), a Lula (PT) sobre a mastodôntica corrupção praticada na Petrobras, a maior da história do planeta, sob o governo petista, o famoso Petrolão. O presidente fez questão de detalhar o escândalo, ressaltando que foi usado para aliciar o parlamento, o que revela dimensão de gravidade muito maior do que o desvio das cifras bilionárias, pois trata-se de um atentado à independência entre os poderes e portanto à democracia. A resposta do ex-presidente para essa super sensível questão, que provavelmente será rotineiramente abordada em guias eleitorais, redes sociais e outros debates, foi citar instituições autárquicas, isto é, atreladas ao Estado e com diretrizes independentes do governo de ocasião, como se fossem "conquistas" de seu governo, tentando passar a ideia de que as investigações dos escândalos do setor público só se dão caso o chefe do Executivo de momento assim permita. Se isso fosse verdade, significaria que o Brasil vive uma democracia de fachada, onde não há a mínima autonomia de autoridades policiais e judiciais para exercer suas funções constitucionais básicas. Ainda em sua fala, o ex-presidente citou temas que nada tinham a ver com a pergunta, como forma de preencher o generoso tempo de 4 minutos concedido pela emissora aos indagados para sua resposta somada à tréplica.
A partir desse chamativo confronto inicial, a toada geral do debate se deu muito em função dos dois presidenciáveis citados, muito mais pendendo a favor do petista e contra Bolsonaro. Uma recorrente postura crítica e por vezes impertinentemente agressiva de Simone Tebet (MDB), por exemplo, foi percebida para com o presidente, focando em duas searas: o combate à pandemia e o tratamento para com as mulheres. O chefe do Executivo, junto à sua assessoria, provavelmente já ciente de que seria o alvo principal, muito por conta das narrativas adotadas por cada um dos adversários para dar forma às suas respectivas candidaturas em todo o período de pré-campanha, se muniu de bastantes dados oficiais sobre o desempenho de seu governo em áreas relevantes, como economia, programas sociais e sanção de leis. Isso lhe proporcionou uma performance assertiva em suas contra-argumentações, como ficou notório nas ocasiões em que foi questionado sobre a miséria vivida por brasileiros, citando fatores adversos à sua gestão como complicadores, a exemplo do lockdown e de sabotagens no parlamento praticadas pelos partidos daqueles que o criticaram no debate; e sobre suposto desrespeito de sua parte para com as mulheres, relembrando as dezenas de leis e programas sociais sancionados em favor das brasileiras.
Um ponto falho da parte de Bolsonaro foi quando respondeu à jornalista de esquerda Vera Magalhães sobre a vacinação no Brasil, reagindo de forma demasiadamente emocional para desqualificá-la, sendo atrapalhado por adversários com interrupções fora dos microfones e terminando sua fala sem citar a informação muito favorável de que foram inoculadas mais de 500 milhões de doses de vacina contra Covid-19 nos brasileiros, todas compradas por seu governo, tornando o Brasil um dos três países que mais vacinaram no mundo. De fato, não só Vera, mas também outros jornalistas de veículos de imprensa da mídia tradicional foram no mínimo deselegantes ao fazer perguntas muito tendenciosas e até falaciosas, como quando insinuou-se que a política de facilitação do acesso a armas de fogo legais aumentou a violência, havendo na verdade uma expressiva redução no número de crimes violentos, e quando se apontou cota de 50% para mulheres nos ministérios como algo virtuoso a ser almejado. Isso em especial expôs um alto grau de loucura política de boa parte da classe jornalística. Até o extremista de esquerda e populista Lula teve que rechaçar essa última questão, dado o tamanho absurdo. As exceções positivas entre os jornalistas participativos se deram com Eduardo Oinegue, da própria Band, que, seguindo a linha de uma lúcida fala que proferiu como âncora do principal telejornal da emissora sobre arbitrariedades ordenadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes contra empresários antipetistas, questionou dois dos candidatos sobre invasões de competência entre poderes da república; Thays Freitas, também da Band, que fez abordagem semelhante; e, por incrível que pareça, com a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, famosa por elaborar matérias agressivas contra o governo Bolsonaro e seus apoiadores, que fez uma pergunta que gerou intensas trocas de farpas entre os "compadres" Lula e Ciro Gomes (PDT).
O embate entre os amigos de longa data Lula e Ciro só perdeu para o Bolsonaro x Lula do início do debate no quesito notoriedade. Enquanto o petista expôs o relacionamento de companheirismo e afinidade política com o pedetista, praticamente prenunciando que os dois estarão do mesmo lado no segundo turno e alfinetando a ida de Ciro a Paris, quando perdeu a eleição de 2018 e se omitiu de uma campanha pró-Haddad (PT), o cearense retrucou atribuindo a "culpa" da vitória eleitoral de Bolsonaro ao petista, apontando seus aliados corruptos outrora chamados pelo próprio ex-presidente de golpistas, seus escândalos e a crise econômica do governo Dilma (PT) como fatores determinantes. A parte mais quente desse confronto se deu na tréplica de Lula, quando mentiu descaradamente ao dizer que foi inocentado nos processos em que foi condenado, algo que só foi desmentido por Ciro fora do microfone, aos gritos.
A mentira foi uma toada constante no discurso de Lula durante praticamente todo o debate, inclusive quando ignorou e distorceu o fato de seu partido ter votado em peso contra o Auxílio Brasil, contra a PEC dos Precatórios, que possibilitou os recursos para o referido programa social, e ter militado contra o aumento de tal assistência, de R$ 400 para R$ 600 até o final de 2022. Sobre isso, Bolsonaro foi assertivo ao ser enérgico pedindo que o ex-presidente "parasse de mentir", atraindo holofotes da audiência diante de um possível bate-boca entre os oponentes.
A questão sobre o "respeito às mulheres" ganhou contornos extremamente distorcidos durante vários momentos no debate, especialmente quando Bolsonaro reagiu emocionalmente a Vera Magalhães, o que despertou narrativas dissimuladas dos demais candidatos, à exceção de Felipe D'Ávila (Novo), contra o presidente. Criou-se um circo para pintar o chefe do Executivo como um monstro agressor de mulheres simplesmente por ter expressado discordância à maneira como uma jornalista usou seu espaço no evento. Diante disso, a postura de Bolsonaro foi abordar o tema relacionado às mulheres por sucessivas vezes para tentar desfazer isso, através da citação de realizações de seu governo, do trabalho voluntário exercido por sua esposa, Michelle, e da defesa de pautas conservadoras, chamando à adesão as mães de família. Foi assertivo de sua parte lembrar da fatídica omissão de Simone em meio a humilhações e grosserias de senadores a mulheres depoentes na CPI da Covid e de uma inesquecível fala grosseira de Ciro sobre sua então esposa Patrícia Pillar em 2002, pois isso fez cair as máscaras dos pretensos paladinos das mulheres, faltando apenas citar a frase de Lula sobre "as mulheres do grelo duro do PT" para completar o desmonte do circo.
Ademais, desmontar circos foi e será uma tarefa constante nesta campanha eleitoral, pois praticamente não há nada que não seja falso em cada narrativa proferida por Lula e suas linhas auxiliares, como se revelaram muitos dos candidatos, principalmente Simone. Ela se mostrou claramente um instrumento para propor direta ou indiretamente uma equiparação moral entre Bolsonaro e Lula, chegando a cometer, durante "dobradinha" com o petista, o absurdo de colocar o "Orçamento Secreto" como mais grave que Mensalão e Petrolão. Essa narrativa, que almeja desarmar eleitores indecisos da rejeição ao ex-presidente fruto da corrupção, já havia sido esboçada pelo próprio Lula em entrevista ao Jornal Nacional, onde acabou sendo respaldada pelos âncoras. Desde atribuir orgias do parlamento com recursos públicos ao presidente da república até supostos escândalos inventados na CPI da Covid: tudo se dá com base em distorções e informações falsas, que Bolsonaro soube rebater razoavelmente bem durante o debate.
A postura de Ciro foi de se colocar como a opção mais racional e propositiva do pleito, usando embates mais acalorados entre Lula e Bolsonaro para enaltecer sua retórica pretensamente técnica e "descolada do ódio". Ele mudou sensivelmente a narrativa adotada em 2018, quando criticava prioritária e severamente Bolsonaro. Hoje em dia ele reconhece acertos do atual governo e aponta legitimidade na escolha da maioria em colocar o capitão do Exército na chefia do Executivo, visando muito mais à crítica a Lula e seus governos, talvez por enxergar que o voto no ex-presidente seja mais cristalizado do que o voto em Bolsonaro. O que permaneceu na plataforma do pedetista em relação a 2018 foi a ideia mirabolante de renegociar as dívidas dos inadimplentes com os bancos, algo que já é naturalmente feito pelo próprio Serasa, mas que ganharia os contornos paternais de seu governo para com os endividados e maternais para com os credores, que teriam a garantia de que a gestão Ciro não deixaria uma única dívida prescrever. Isso sem contar o incentivo tosco a ser gerado na economia, livrando gastadores inconsequentes dos efeitos danosos de suas próprias decisões. Como se não bastasse toda essa demagogia temerária, Ciro ainda acrescentou a proposta de pagar R$ 1000 por mês aos usuários de programas sociais, num aparente desespero em chamar a atenção do povão. Não fosse a "DR" que teve com Lula num dos blocos iniciais, teria massificado razoavelmente bem a imagem de terceira via.
O candidato do partido Novo trouxe à baila diversos conceitos fundamentais para a prosperidade de qualquer país, que são fundamentados em liberdade econômica, segurança jurídica e Estado enxuto. Apesar de ter feito uma pergunta excessivamente amigável a Ciro, um arqui-inimigo dos liberais, logo no início, mostrou que, ao contrário de um dos principais fundadores de seu partido, João Amoêdo (Novo), e de outros membros influentes, não se lançou no debate público para servir de escada ao discurso de esquerda contra Bolsonaro, especialmente quando se recusou a fazer uma dobradinha com Lula sobre meio ambiente para atacar o presidente e focou nas críticas ao estatismo e ao radicalismo do PT. Acabou pecando ao repetir mantras do liberalismo de forma pouco aprofundada, além de entrar em contradição com tal ideologia quando defendeu "carbono zero", expondo o temerário alinhamento de seu partido ao globalismo ocidental. Em uma de suas participações finais foi assertivo ao abordar um tema extremamente sensível aos brasileiros: a rejeição ao "fundão" eleitoral, confrontando a maior beneficiada entre os candidatos, Soraya Thronicke (União Brasil).
Esta última se destacou negativamente por ser pouco consistente em diversas de suas falas, demonstrar pouco conteúdo, mostrar seu lado "canastrona", sobretudo após a inventada "agressão" de Bolsonaro às mulheres, e defender a imoralidade do financiamento público bilionário a campanhas eleitorais como o "financiamento da democracia", algo prontamente refutado por Felipe, que apontou acertadamente que esses recursos são em sua grande maioria destinados aos velhos caciques da política e que uma democracia sólida é movida por doações voluntárias a candidatos. Ela também acabou sendo pintada por Lula como uma "madame elitista" que não entende a mentalidade dos pobres.
O final foi marcado pela confirmação da polarização entre Lula e Bolsonaro, tanto pelas considerações finais do próprio presidente, apontando os perigos da tirania atrelados ao petista, que apoiou e contribuiu de forma crucial para a eleição de ditadores em diversos países vizinhos, lembrando da incoerência ambulante que é o fato de Geraldo Alckmin (PSB) ser o vice do ex-presidente e ressaltando os valores da pátria, da família e do cristianismo, quanto pela decisão da própria Band em conceder direito de resposta a Lula por ter sido chamado de "ex-presidiário", dando a entender que isso foi uma injustiça contra o petista. Isso foi um tremendo desserviço da emissora, pois um direito de resposta deve servir para restabelecer a verdade ou garantir a ampla defesa de alguém levianamente acusado. Ora, se Lula já esteve preso, cabe nele a pecha de ex-presidiário. A bola fora da Band foi intensificada quando negou direito de resposta a Bolsonaro depois que o petista usou o dele para adjetivar ofensivamente o chefe do Executivo e mentir, mais uma vez, dizendo que foi "absolvido". Provavelmente isso motivou Bolsonaro a se retirar rapidamente dos estúdios após o término do debate, sendo o único a não conceder entrevista aos repórteres da emissora no tradicional depoimento pós-debate. Isso passou a imagem de protesto contra a conduta da Band, reforçando a narrativa de que de fato há um "sistema" contra Bolsonaro, que abrange desde a maioria dos demais presidenciáveis e seus partidos até os grandes veículos de imprensa. Isso inclusive foi verbalizado pelo próprio candidato à reeleição durante o debate, referindo-se especificamente aos seus adversários, pelo alegado fato de ter combatido a corrupção durante sua gestão.
Lula se viu rodeado de lembranças sobre falas, alianças e apoios comprometedores, além dos famosos escândalos a ele atribuídos. Pareceu um pouco perdido na hora de se defender. Isso porque não há propriamente uma maneira objetiva e coerente de se defender sobre tal assunto, mas, sim, de tergiversar, mas até isso tem seus limites. Em uma das ocasiões em que expôs hesitação, quase derrubou seu copo com água de seu púlpito e em outra, emudeceu estranhamente no meio de uma explanação. Quem soube explorar bem essas falhas e lacunas foi Bolsonaro, que por diversas vezes o ironizou e ridicularizou, massificando nele as pechas de mentiroso e ex-presidiário. Nas considerações finais o ex-presidente ainda pareceu ter cometido um escorregão em sua estratégia ao exaltar a figura da impopular Dilma como uma heroína injustiçada e vítima de um golpe, cujos supostos autores são em sua maioria aliados de Lula atualmente.
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