O raro debate entre os candidatos a senador realizado na TV Manaíra, que para o bem dos eleitores deveria ser promovido em mais ocasiões, também em outras emissoras, mostrou mais embates agressivos entre adversários em relação aos debates para governador e um pouco mais de preparo, na média, por parte dos postulantes ao cargo no Congresso Nacional.
Apesar da repetição de certos vícios da emissora, já explicitados no primeiro debate para governador, como o das grandes restrições de tempo aos debatedores diante de perguntas complexas e abstratas em excesso feitas pela sua equipe de jornalismo, o que se viu foi um debate mais enxuto, com menos de duas horas de duração, ao contrário dos debates para governador, que beiram as três horas, levando mais objetividade ao eleitor. Vale menção às fake news reverberadas pela emissora sobre o chocante caso da criança grávida que teve seu filho abortado com o aval do Estado, tendo um estupro supostamente praticado contra ela por um menino de 13 anos, ao contrário do que postulou o jornalismo da TV Manaíra, não comprovado, e um dado irreal que foi utilizado como base para uma pergunta no debate para governador e acabou servindo para embasar sua abordagem no debate para senador: o de que cerca de 30 milhões de brasileiros "passam fome". Tal assertiva é extremamente subjetiva e desconectada com os conceitos utilizados pelas autarquias especializadas em socioeconomia, que diferenciam "insegurança alimentar", quando existe uma restrição expressiva no acesso a alimentos, de "fome", quando pelo menos uma pessoa da família pesquisada passou ao menos um dia inteiro sem comer. Se for considerado o segundo conceito, menos de 10 milhões de pessoas se enquadram nele no Brasil.
Essa última fake news foi reafirmada pela candidata do governador João Azevêdo (PSB), Pollyana Dutra (PSB), no ímpeto de desgastar a imagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante embate com Efraim Filho (União Brasil), que aceitou o dado falso sem questionamento, ao contrário do que assertivamente fez Nilvan Ferreira (PL) durante debate para governador na mesma emissora quando confrontado pelo mesmo dado falso.
O primeiro bloco, em que os candidatos falaram sobre questões levantadas por jornalistas, serviu para exaltar o debate nacional em torno da polarização ideológica e contrastes entre princípios professados pelos debatedores, como foi feito acertadamente por Bruno Roberto (PL) ao expor o absurdo do aborto defendido pelo candidato do PSOL, desqualificando-o moralmente e reafirmando a defesa básica da vida junto a um testemunho pessoal, que impulsiona a carga emocional do eleitor favoravelmente a ele no tema. Tal confronto de princípios divergentes também foi realizado entre Efraim e Ricardo Coutinho (PT) sobre o armamento civil, servindo para o ex-governador confirmar suas pautas alinhadas ao candidato a presidente Lula (PT), no ímpeto de fidelizar o eleitor de esquerda do estado, e para o deputado beliscar votos de direitistas, embora não seja esse o seu foco principal na campanha deste ano. Vale salientar também a performance de Sérgio Queiroz (PRTB) no quesito de confrontar visões políticas polêmicas, transformando a discussão sobre cotas para concursos públicos num palco de exaltação de ânimos na defesa dos princípios meritocráticos, também mencionando testemunho pessoal para impulsionar isso, embora tenha expressado simpatia pelas cotas sociais em ocasiões anteriores ao debate. Talvez isso revele uma mudança estratégica no tom de sua campanha.
A partir do segundo bloco, com perguntas feitas de candidato para candidato, percebeu-se que Pollyana apontou prontamente suas armas retóricas para Efraim no intento de beliscar os prefeitos que o apoiam, "acusando o golpe" que foi o rompimento dos Morais com o governador, que esperava contar com uma base de prefeitos mais recheada para a disputa eleitoral e teve graves perdas de apoio com a saída do deputado. Ela também exalou uma retórica de alinhamento a Lula, buscando rivalizar com Ricardo na busca pelo eleitor esquerdista apesar da desvantagem em termos da ausência de apoio do ex-presidente. Já o deputado reafirmou seu vínculo com prefeitos do estado com base em recursos federais que destinou a cidades e ignorou a polarização nacional, buscando temas mais locais e propositivos ao mesmo tempo em que evocou alguns de seus atos como parlamentar para gerar a ideia de que muito fez e mais pode fazer como senador. Uma toada que parece acertada para o contexto do candidato, pois atrai para si menos rejeição, que seria mais fruto da polarização ideológica, ao mesmo tempo em que contempla assuntos mais ligados ao dia a dia dos eleitores, não deixando de marcar posição em temas sensíveis, como livre mercado e armamento civil.
A toada do discurso adotado por Sérgio se deu no sentido de demonstrar repertório em áreas de estudo socieconômico, lembrar e relembrar de seu currículo nos setores público e privado, este último atrelado a ações sociais da Igreja, e buscar desqualificar adversários que já possuem trajetória na política ou são vinculados a grupos políticos que a tenham. Ele fez isso especialmente com Efraim e Bruno. No caso do embate com este último, usou de tom mais incisivo do que o habitual na tentativa de colocá-lo como típico oportunista e fazer o eleitor bolsonarista, que em tese é naturalmente inclinado a votar em candidatos indicados pelo presidente, perder a confiança no indicado e acabar votando no pastor por um alegado alinhamento ideológico de longa data. Tal confrontação não se mostrou saudável a nenhum dos dois candidatos, pois um expôs vulnerabilidades do outro que dificilmente seriam expostas pelos demais candidatos. Estes tenderiam a apostar mais no contraste ideológico e acabariam favorecendo a ambos os debatedores envolvidos, que agradariam suas respectivas bases de eleitores cada um da sua forma. Esse embate simplesmente contribuiu para desincentivar o eleitor de direita a votar em alguém para senador, já que ele percebeu que os candidatos mais próximos das ideias dele possuem fatores que arranham de alguma forma sua credibilidade: no caso de Bruno, um passado recente de ataques verbais a Bolsonaro e a alguns de seus ministros; no caso de Sérgio, um suposto apoio à socialista Marina Silva (Rede) em 2014, que não foi negado por ele, a ausência de apoio por parte de membros relevantes do governo federal, inclusive do presidente, e o apoio público a Raoni Mendes (União Brasil) em 2020, que compunha a base do governo João. Essa toada mais ofensiva é especialmente problemática a Sérgio, pois o coloca indiretamente numa posição de contestador de Jair Bolsonaro, a quem apoia, já que foi o próprio presidente quem escolheu Bruno. Seria mais salutar para o pastor buscar um tom mais conciliador com tal realidade, apontando conjunturas partidárias circunstanciais como causadoras dela e não desmerecendo a escolha de Bolsonaro.
Ao contrário de Sérgio, Bruno apostou mais na polarização ideológica, especialmente com Ricardo, se atendo ao ponto-chave relacionado ao ex-governador: o fato de estar inelegível e ainda assim se colocar como candidato e participar de debate. Isso, assim como priorizar a pauta do aborto diante de um esquerdista radical, é extremamente eficaz em termos de captar a atenção do eleitor e gerar identificação com ele, pois esses são absurdos que saltam aos olhos de qualquer cidadão com o mínimo de bom senso, mas que por muitas vezes passam despercebidos por muitos candidatos que levam a sério demais quem os defende. O candidato do PL também foi assertivo ao levantar uma questão que afeta Ricardo e João simultaneamente: as denúncias e fortes suspeitas de corrupção. Isso levou o próprio petista a "acusar o golpe" e se defender da Operação Calvário sem que ela sequer tivesse sido citada pelo oponente no embate, algo que se repetiu em outras ocasiões durante o debate. Quando Sérgio teve a chance de propor um embate mais exaltado com Ricardo, ao menos semelhante com o que fez com Bruno, resolveu misturar a situação periclitante do ex-governador perante a Justiça com o assunto da proposta pela prisão em segunda instância. Isso foi positivo e até criativo, mas faltou maior ênfase para desqualificar moralmente o candidato inelegível.
Os candidatos nanicos presentes no debate mostraram ser um pouco mais preparados, ao menos retoricamente, do que os nanicos da disputa pelo governo do estado. Enquanto o do PSOL tinha uma aparência mais leve e até mais apropriada ao debate do que muitos dos candidatos que seu partido já lançou, fazendo até os telespectadores esquecerem por poucos minutos do seu radicalismo esquerdista quando confrontou Ricardo e expôs a hipocrisia de seu discurso "contra elites" ao apontar seu vínculo com famílias ricas da política paraibana, o do PDT repetia com certa aptidão o discurso pretensamente técnico de Ciro Gomes (PDT). Mas não passaram disso. Também acabaram sendo usados por Ricardo para confirmar suas pautas à esquerda e atacar Bolsonaro.
Para finalizar, ganhou destaque o embate entre Bruno e Pollyana, em que o primeiro usou duas questões para criticar a adversária e o governador ao mesmo tempo: a imposição do lockdown na Paraíba e uma de suas graves consequências, o aumento expressivo dos casos de violência contra mulheres por seus respectivos companheiros dentro de casa. Isso revelou a incoerência do discurso feminista de Pollyana, já que ela defendeu o lockdown, mas não defendeu as mulheres nesse quesito, e por tabela expôs que ela foi o "plano B" de João Azevêdo, um homem, que só a escolheu como candidata ao Senado depois que se frustrou nas articulações com Efraim e Aguinaldo Ribeiro (PP), dois homens. Esse assunto, que parecia ter morrido nesse embate, perdurou até depois do término do debate, sendo alimentado pelo nanico do PSOL como uma suposta "agressão gratuita" de Bruno a Pollyana "pelo fato de ela ser mulher". Isso foi reafirmado pela própria candidata durante o rápido depoimento pós-debate, usando-o para atacar seu oponente quando já não havia mais clima para novos embates. Diante disso, talvez a maior "bola fora" cometida por um candidato a senador durante todo esse evento televisivo tenha sido a fala de Sérgio, que imputou credibilidade a algo que o público percebeu ser claramente uma mentira. O pastor chegou a aconselhar Bruno a "se desculpar" com Pollyana pela suposta "agressão". Isso não faz sentido algum dentro do contexto da candidatura de Sérgio, pois ao mesmo tempo em que massificou uma mentira dissimulada, se contrapôs ao sentimento dos eleitores de direita, que rechaçam esse tipo de cacoete feminista.
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